segunda-feira, 3 de junho de 2013

Expedições literárias (chegada)


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Ao longo do ano de 2012, as Expedições Literárias trilharam parte do caminho inicialmente proposto. Ficaram de fora, por enquanto, Otelo (William Shakespeare), São Bernardo (Graciliano Ramos) e as poesias de Adélia Prado e de Fernando Pessoa.
Não é acertado dizer que chegamos ao ponto final. É verdade que este viajante aqui desembarcou em uma das estações, com a confiança de que outros terão ânimo e criatividade para conduzir o comboio, daqui em diante, a outras paragens.
Não está entre as minhas capacidades, tão limitadas, fazer parar uma força (a força da narrativa, a força de contar estórias, a força de refletir sobre a vida) tão impressionante como essa, de que as Expedições são, na minha vida e na vida dos que dela fazem parte, uma das manifestações visíveis.
Agradeço a todos os que fizeram parte da organização dos encontros, em especial à Luzenir Gonzaga, que preparou os relatos biográficos e que com sua dedicação e jeito ornamentou o nosso ambiente com as cores e os sabores das estórias, dos lugares e dos personagens com que convivemos; e à Acione Menezes, da Escola Interação, não apenas pelo espaço que gentilmente nos cedeu, mas principalmente por ter participado, com seus cativantes testemunhos, das nossas leituras. Fazendo votos de que nos encontremos em outras oportunidades, agradeço também a todos os expedicionários, pelo entusiasmo e pela participação ativa nessa viagem. Vale.

Expedições literárias (desenvolvimento)


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Após o primeiro encontro de março (de 2012), no qual desenvolvemos o tema Como a literatura pode transformar a sua vida, lemos e comentamos nas Expedições literárias, ao longo do ano, Dom Casmurro (Machado de Assis), Dom Quixote (Miguel de Cervantes), Vidas Secas (Graciliano Ramos), O Guarani (José de Alencar) e a poesia de Carlos Drummond de Andrade.
A plateia nem sempre enchia os dedos das duas mãos, mas ela invariavelmente participava com muito interesse e notável aproveitamento. Algumas pessoas, ainda que pouco acostumadas à leitura dos grandes livros, saíam dos encontros comentando a angústia de Bentinho, o comportamento esquivo de Capitu, as loucuras de Dom Quixote, a ingenuidade interesseira de Sancho Pança, a bravura de Fabiano, o peso existencial que caía sobre sua família, o triste fim de Baleia. Plantamos sementes que oxigenarão, uma vez desenvolvidos os frutos, a vida imaginativa dos que embarcaram conosco naquela prosaica viagem.
Enquanto comentávamos Dom Casmurro, Bentinho saiu -- não estou de brincadeira! -- das páginas daqueles livros antigos e caminhou entre nós; nos deu a chance de percorrer com ele sua atormentada vida interior. Dom Quixote desceu do Rocinante, na vista de todos, e lançou seus paternais conselhos a Sancho – todos, atentos, ouvimos e somos capazes de repeti-los –, antes que ele assumisse o governo da Ilha Baratária. O tom sapiencial do cavaleiro ainda ecoa em nossos ouvidos, e contrastam com o discurso de renúncia que o escudeiro proferiu solenemente ao abrir mão daquela tarefa antes tão-desejada; renunciou nem tanto por considerá-la acima de sua perspicácia mas sim por constatá-la muito diversa daquela outra acalentada em seus sonhos de ser governador.
Por alguns momentos eu me lembrava do prof. José Monir Nasser, que naquela altura já estava hospitalizado, e agradecia a Deus por estar ali com aquelas pessoas -- enquanto lá fora, na noite morta, junto ao poste de iluminação, os sapos engoliam mosquitos, à vista de uma procissão de sombras de todos os que passaram, os que ainda vivem e os que já morreram.
A escolha da cidade que recebeu o projeto – onde há oito anos fui promotor de justiça por um ano e meio – deu obviamente contornos novos à configuração que imaginei inicialmente. Um município do Nordeste de Minas Gerais, com 18 mil habitantes, um terço deles na zona rural, tem por si só jeito de literatura imaginativa. Naturalmente, a maior parte da cidade não tomou conhecimento daqueles encontros literários. Os que tomaram conhecimento se dividiam entre os que não entenderam qual era exatamente o seu propósito; os que entenderam mas não se interessaram; os que entenderam, se interessaram mas não encontravam, entre os afazeres usuais de um sábado à noite, tempo para ir à Escola Interação; e, finalmente, os que entenderam, se interessaram e foram aos encontros, com muito proveito.
A relativa invisibilidade das Expedições Literárias em Águas Formosas é compreensível. Em pequenos municípios brasileiros, qualquer iniciativa (principalmente se diz respeito à cultura) é custeada com dinheiro da Prefeitura Municipal. Não estou muito longe da verdade se disser que, especificamente em Águas Formosas, no imaginário da sociedade só há dois tipos de iniciativas comunitárias: as que são apoiadas pelo poder público e as que não existem. Logo, as Expedições Literárias não existem (apesar disso tenho testemunhas confiáveis que podem jurar o contrário).
Na área da literatura, esse panorama já havia sido desafiado, em parte, pela Garagem das Letras, dirigida, não por coincidência, pela própria Luzenir Gonzaga. Em geral, os movimentos culturais de lá como de diversos pontos do território nacional começam, por assim dizer, com emendas parlamentares de deputados estaduais e de vereadores. E, como vocês sabem, o poeta federal acaba sempre tirando ouro -- não propriamente do nariz mas -- do nosso suado dinheiro. Os deputados e vereadores entendem pouco de poesia. Aliás, de muito tempo para cá os políticos só entendem muito pouco de quase nada.
Alheios aos sapos que engoliam mosquitos, mas de alguma forma sintonizados na procissão de sombras de todos os que passaram, lá estivemos cultivando o imaginário ao longo de aproximadamente dez encontros, escrevendo a história do que poderia ter sido e foiNa alma e com alguma verdade, realizamos o propósito a mesa de depois.

Expedições literárias (começo)


Em março de 2012 começamos eu, Luzenir Gonzaga e a Escola Interação, em Águas Formosas, MG, uma série de encontros para falar sobre alguns dos grandes livros da literatura imaginativa universal. Expedições literárias foi o nome escolhido para batizar aquele conjunto de esforços.
O patrono da iniciativa foi, na parte que me cabe nessa empreitada, o prof. José Monir Nasser, idealizador e executor das Expedições pelo mundo da cultura.
O primeiro encontro tratou de explicar Como a literatura pode transformar a sua vida. Para desenvolver com a plateia essa ideia -- que, hoje em dia, tem ares de esquisitice --, levei escritas as seguintes notas:
1) Por ser arte, a literatura nos coloca em contato com o que é belo, com o que é eterno. Através da arte nós podemos encontrar um relativo alívio para nossas angústias e acostumar-nos a viver junto do que é verdadeiro, bom e belo. Ao contemplar uma obra de arte, podemos encontrar um sentido e um significado para nossas ações. “A arte segura o tempo, eterniza uma situação que nos emociona” - Adélia Prado.
2) A arte educa a sensibilidade, os sentimentos. Uma das fontes da nossa infelicidade é a falta ou a desordem dos sentimentos. Amamos o que não vale a pena e não gostamos do que é bom. Não amamos de verdade e não somos amados -- dei sem dar e beijei sem beijo, confessou Drummond. A beleza é fraterna, é amorosa, não exclui.
3) Os bons livros nos colocam em diálogo com toda a humanidade e nos mostram a amplitude e as possibilidades da vida humana. O lugar onde moramos, nosso círculo de amigos, nossa educação, nossa profissão, tudo isso nos dá uma experiência limitada do que é a humanidade. Se você não tem contato com uma variedade grande de pessoas, é provável que acabará não conhecendo o potencial que você tem – e algo em você ficará vazio. Você pode ter nascido para desenvolver possibilidades que você ainda não conhece e que podem estar muito distantes de você. Nós conhecemos uma parte de nós mesmos olhando os outros. Para nos conhecer nós temos que conhecer a humanidade. Se você não conhece as possibilidades da vida humana, você não sabe até onde ela pode se expandir e não sabe portanto até onde você pode ir. Até onde você pode ir? Os clássicos podem iluminar a sua vida; podem ser uma ligação entre você e a espécie humana. Você pode crescer e ser maior que a sua sociedade. Na verdade, você pode ser do tamanho da humanidade!
4) Os clássicos o ajudam a conhecer a si mesmo e a conhecer os outros. Os bons livros colocam diante de nós uma série de personagens muito diversificados e nos mostram as razões de suas ações, seus pensamentos, seus sofrimentos, suas contradições, suas mentiras, sua vida interior. E por isso nos ajudam a refazer o olhar sobre nós mesmos. É como se uma nova antena se instalasse, com uma nova frequência. Você passa a captar, a notar coisas e relações que antes você não percebia. Enfim, você fica mais inteligente. Ao ler os grandes livros, você se conhecerá melhor, entenderá melhor as pessoas, gostará mais delas e saberá lidar melhor com os outros.
5) Você terá maior acesso à história da humanidade e à diversidade cultural. Os bons livros nos colocam em contato com culturas diferentes das nossas. Eles nos contam fatos ligados à história da humanidade, nos situam dentro da grande linha histórica que chega até nós.
6) Através da leitura dos bons livros, aprenderemos a apreciar a nossa vida atual, às vezes simples e às vezes complexa como só ela é. Nós estamos acostumados com o nosso dia a dia. Isso pode nos entediar e nos impedir de apreciar as coisas boas e simples da vida. O hábito e a falta de atenção nos deixam em um estado de adormecimento. Os clássicos nos mostram momentos cotidianos simples mas dignos de atenção e por isso nos abrem os olhos, nos dão a chave para apreciar a vida e gostar do que nos acontece. É preciso cultivar um novo modo de olhar o mundo; um segundo olhar a coisas cotidianas, que antes não percebíamos ou que nos entediavam.
7) A leitura aumenta a nossa capacidade de contar a nossa própria história. Muitas vezes a angústia que sentimos não é com nossa própria vida, mas com o modo com que contamos a nossa vida para nós mesmos e para os outros. Em geral nós damos ao que sentimos uma expressão exagerada ou falsa, que tomamos, depois de muito tempo, pela realidade mesma. O ideal é que nossa própria história, a versão que nós contamos, tenha cores e sons, enfim, que tenha poesia, que seja artística.
8) A leitura dos bons livros nos ajuda a melhorar a expressividade oral e escrita. Com o hábito de ter boas leituras, você absorverá novas e mais adequadas formas de dizer o que percebe e o que sente, se acostumará com as estruturas gramaticais, aumentará seu vocabulário e absorverá os estilos de redação dos grandes escritores.
9) No mínimo, a leitura nos afasta de atividades negativas e nos coloca em um espaço de reflexão muito precioso. A leitura de um romance ou de boas poesias nos desliga um pouco da agitação do mundo, nos dá tempo para ruminar nossos sonhos, nossos planos e nossos desejos.
10) A quem quer ser escritor a leitura dos clássicos permite conviver virtualmente com os futuros "colegas de profissão" e ajuda a expandir a criatividade. Toda arte é ensinada de pessoa a pessoa. O contato com os grandes escritores é um excelente estímulo para desenvolver o gosto pela narrativa e pela expressão através da palavra. Nesse caso, pode ser necessário também conhecer a história da literatura, ler livros de crítica literária, ler autobiografias de grandes escritores, fazer exercícios de imitação dos estilos mais originais etc.

domingo, 9 de dezembro de 2012

A palavra conta


Este documentário tem depoimentos interessantes de várias pessoas -- entre eles os de um escritor mineiro que descobri há pouco tempo, chamado Bartolomeu Campos de Queirós. Bom proveito!

sábado, 24 de novembro de 2012

Convite


E o trem das Expedições Literárias continua sua viagem...
Desta vez, vamos parar na Estação O GUARANI,
do José de Alencar.
Prepare-se para muitas emoções:
romance, aventura, intrigas, lutas...
Dia 24/11/2012, sábado, às 18 horas, na Escola Interação.
 

Você não vai perder este trem, vai?!?!
Estaremos esperando-lhe.
                                                          Bruno e Luzenir.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Sétima Estação: Dom Quixote 2

Como o clássico Dom Quixote foi publicado em dois volumes, nosso trem também parou em duas estações para conversarmos sobre esta obra que foi eleita a melhor do mundo em 2002. (veja http://www1.folha.uol.com.br/folha/reuters/ult112u15532.shtml).
Na primeira estação, conversamos sobre o primeiro volume, publicado em 1605 (veja post anterior) e na segunda,demos continuidade com a análise do segundo volume, publicado em 1615.
O encontro ocorreu no dia 01 de setembro, na Escola Interação e mais uma vez contamos com a participação do professor Gustavo e integrantes do Grupo de Teatro Criança Canhota, além dos passageiros de costume.
O Bruno conduziu a leitura de excertos da obra e todos opinaram, questionaram e, claro, deram boas risadas. Em seguida, a Luzenir mostrou várias obras onde pode ser constatada uma relação intertextual com a história do fidalgo espanhol e seu escudeiro.
Neste encontro houve a participação de um visitante muito especial, o professor João Cangussu, que, coincidentemente, conhece a Espanha e enriqueceu o debate falando um pouco sobre como os espanhóis valorizam sua cultura. Interessante foi o depoimento do Bruno ao afirmar que o Expedições Literárias, de certa forma, é o resultado de  uma fala que ele ouviu do João há algum tempo: "Nâo comprem bois, comprem livros".
Neste encontro houve um aprofundamento na reconstrução de possíveis significados para a obra, inclusive fazendo relações com o contexto político espanhol da época de sua criação.
No final, muita emoção após a leitura do último excerto... e uma certeza: Dom Quixote não morreu, ainda vive na alma de cada um que vai em busca do seu sonho ou daquele que luta para minimizar as injustiças desse mundo.



Professor João Cangussu empolgado, falando sobre a importância da leitura e o que viu nas suas viagens à Espanha.


"Mesa de degustação" inspirada no livro e  na culinária típica espanhola:
pão, bacalhau, arroz-doce, azeite e suco de uva integral (simbolizando o vinho),
como pode ser comprovado nos trechos das fotos abaixo.

 
 
                                     

                                     
 

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Convite

DOM QUIXOTE... e a aventura continua!!
Você é nosso convidado(a) para esta viagem no trem das Expedições Literárias.
 Dia 01/09/2012, sábado, às 18 horas, na Escola Interação.
Esperamos por você.
Bruno e Luzenir